Segue mais um fichamento para formação e divulgação dos estudos dos alunos da disciplina de Teoria e História 2. Esse fichamento trata-se do capítulo 5 (A engenharia e arquitetura do século XIX) do livro de Nikolaus Pevsner. Esse fichamento foi realizado pela aluna Marianna Correia que soube ser objetiva sem perder as importantes sutilezas do conteúdo.
FONTE: PEVSNER, Nikolaus. Os Pioneiros do Desenho Moderno –
De William Morris a Walter Gropius. trad. João Paulo. São Paulo: Editora Martins Fontes,1995.
O século XIX
pode ser considerado como período de formação do movimento moderno, no qual
surgiram três principais vertentes: Morris e o Artes e Ofícios, a Art Noveau e
a engenharia da época.
Produzido em
escala industrial, o ferro passou a ser empregado na substituição de outros
materiais, como madeira e pedra. Inicialmente em Portugal e o resto da Europa,
o uso do material foi mais prático que estético. O emprego estrutural do ferro
foi mais expressivo no interior de fábricas, como a fiação de linho da Firma
Benyon, Bage & Marshall em Shrewsbury, 1796. Houve uma total substituição
da madeira pelo ferro, que fora usado nas vigas e colunas de sustentação do
prédio em alvenaria. Essa idéia logo fora implantada em varias outras fábricas,
mas a estrutura de ferro em si continuava no interior das construções.
Nos Estados
Unidos a estrutura de ferro ganhou as fachadas dos prédios utilitários. O
estilo continuava clássico, e o metal imitava o aspecto de outros materiais.
Tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra os motivos artísticos ainda eram
predominantemente góticos ou ecléticos.
No interior, porém, onde a preocupação era mais funcional, o espaço
interno ganhava a modernidade do século XX.
Pode-se
considerar que o uso do ferro teve pouca ou quase nenhuma expressão artística
legítima, não fosse a leveza e elegância das pontes de ferro. A primeira ponte
inteiramente de ferro de Abraham Darby em 1777-81 em Coalbrookdale é um
destaque em plasticidade e elegância do novo material. As pontes pênseis também
ganharam espaço no arrojo e na leveza, com menos ornamentações e mais
funcionalidade, em contrapartida do peso clássico. Nas igrejas inglesas o uso
do ferro tornou-se tendência. Colunas e suportes de ferro para vitrais eram
cada vez mais explorados, mas, como sempre, de forma mais prática que estética.
Coube a John
Nash o trabalho em ferro de forma artística. O Pavilhão de Brighton, com uma
escada principal inteiramente de ferro e colunas de cujo topo caem folhas de
palmeira de ferro (1818-21). Foi o primeiro caso de uso do ferro
não-dissimulado em obras dependentes da coroa inglesa. A cúpula de vidro
presente no pavilhão de Brighton, entretanto, não era a primeira de seu modelo.
Em Paris já eram construídas cúpulas desse tipo, que vieram a ser muito usadas
em estufas e edifícios públicos por toda a Europa. O Estilo de Nash, denso e
eclético, entretanto, não surpreendeu tanto quanto a inovação da maior cúpula de
vidro que viria a ser construída.
O mérito em
modernidade e monumentalidade coube a Joseph Paxton, com o Palácio de Cristal,
sede da Primeira Exposição Internacional. A estrutura do pavilhão foi feita
inteiramente de ferro e vidro. O que mais surpreende, porém, é o seu tamanho:
maior que o Palácio de Versalhes, totalmente pré-fabricado e “(...) montado num
prazo miraculosamente curto de dez meses.” (Pesvner, Nikolaus, 1980, pág. 128)
Houveram
polêmicas e críticas afiadas contra a obra de Paxton, mas era inegável o fato
de que ali nascia uma nova arquitetura. Os defensores do novo modelo estético
apreciaram e elogiaram-na como arquitetura do futuro, mas não havia arquitetos
adeptos dessa nova linha de construção. Enquanto isso, vencimento de grandes vãos na combinação de
trabalho estético e engenhoso coube às estações ferroviárias.
Nesse contexto
polêmico, um arquiteto de destaque foi Violet-le-Duc, defensor veemente do uso
do ferro e grande admirador da arquitetura gótica. Em seu livro Entretiens, sua opinião sobre o uso do
ferro ricamente adornado fica bem clara. “Evidentemente não se poderia esperar
mais do que isto de qualquer arquiteto dos anos 60 e 70.” (Pevsner, Nikolaus,
1980, pág. 133)
Foi o talento
e a coragem dos engenheiros que trouxe os trunfos da construção em ferro como
uma nova forma de conceber a arquitetura. A ala das máquinas de Duterte e
Contamin, da Exposição Internacional de Paris de 1889, é um monumento ao ferro,
onde se mostra seu grande potencial plástico e artístico. Para a mesma exposição
coube a Eiffel a construção da maior torre até então construída, a Torre Eiffel
(1889). Monumental, leve com curvas dinâmicas, uma construção inovadora para o
contexto da época, onde, inicialmente, foi muito criticada.
Com a invenção
do elevador e domínio do aço, passaram a ser construídos os primeiros
arranha-céus. Sullivan, com Wainwright Building de St. Louis foi marco na
época, com metal maciço em sua fachada. A partir daí, o concreto inicia a sua
trajetória de volta às construções, e aliado ao aço, substituiria em pouco
tempo o uso da pedra.
O concreto
atingiu sua maturidade em 1897, com a construção da Igreja de Saint-Montmartre,
de Anatole de Baudot. Discípulo de Violet-le-Duc, Baudot trabalha a estrutura
da igreja num ideal fundamentalmente gótico, mas que antecede a complexidade
espacial de grandes arquitetos modernos.
Os problemas
sociais causados pela revolução industrial trouxeram aos arquitetos mais
conservadores uma rejeição de novos materiais e nova arquitetura emergentes. Os
engenheiros, entretanto, levaram adiante as novidades, gerado conflitos
profundos relacionados à forma como via-se a arte na época. “O Artes e Ofícios
manteve a mesma atitude retrospectiva e os engenheiros a mesma indiferença para
com a arte como tal.” (Pevsner, Nikolaus, 1980, pág. 143)
Houveram
também aqueles que defenderam a valorização do artesanato, mas com o proveito
dos novos materiais e tecnologias. Estes formaram o Art Noveau, e uniram-se ao
arrojo dos engenheiros. O século XIX gerou o ambiente propício para o
modernismo: a temerosidade do fim das artes manuais, o surgimento de novas
tecnologias e a Art Noveau. A busca
do equilíbrio e de um estilo correspondente às descobertas e acontecimentos foi
o berço dos movimentos intelectuais e sociais do século XX.
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