segunda-feira, 19 de março de 2012

Fichamento do texto A engenharia e a arquitetura do século XIX (Pevsner, N.)

Segue mais um fichamento para formação e divulgação dos estudos dos alunos da disciplina de Teoria e História 2. Esse fichamento trata-se do capítulo 5 (A engenharia e arquitetura do século XIX) do livro de Nikolaus Pevsner. Esse fichamento foi realizado pela aluna Marianna Correia que soube ser objetiva sem perder as importantes sutilezas do conteúdo.

FONTE: PEVSNER, Nikolaus. Os Pioneiros do Desenho Moderno – De William Morris a Walter Gropius. trad. João Paulo. São Paulo: Editora Martins Fontes,1995.

O século XIX pode ser considerado como período de formação do movimento moderno, no qual surgiram três principais vertentes: Morris e o Artes e Ofícios, a Art Noveau e a engenharia da época.
Produzido em escala industrial, o ferro passou a ser empregado na substituição de outros materiais, como madeira e pedra. Inicialmente em Portugal e o resto da Europa, o uso do material foi mais prático que estético. O emprego estrutural do ferro foi mais expressivo no interior de fábricas, como a fiação de linho da Firma Benyon, Bage & Marshall em Shrewsbury, 1796. Houve uma total substituição da madeira pelo ferro, que fora usado nas vigas e colunas de sustentação do prédio em alvenaria. Essa idéia logo fora implantada em varias outras fábricas, mas a estrutura de ferro em si continuava no interior das construções.
Nos Estados Unidos a estrutura de ferro ganhou as fachadas dos prédios utilitários. O estilo continuava clássico, e o metal imitava o aspecto de outros materiais. Tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra os motivos artísticos ainda eram predominantemente góticos ou ecléticos.  No interior, porém, onde a preocupação era mais funcional, o espaço interno ganhava a modernidade do século XX.
Pode-se considerar que o uso do ferro teve pouca ou quase nenhuma expressão artística legítima, não fosse a leveza e elegância das pontes de ferro. A primeira ponte inteiramente de ferro de Abraham Darby em 1777-81 em Coalbrookdale é um destaque em plasticidade e elegância do novo material. As pontes pênseis também ganharam espaço no arrojo e na leveza, com menos ornamentações e mais funcionalidade, em contrapartida do peso clássico. Nas igrejas inglesas o uso do ferro tornou-se tendência. Colunas e suportes de ferro para vitrais eram cada vez mais explorados, mas, como sempre, de forma mais prática que estética.
Coube a John Nash o trabalho em ferro de forma artística. O Pavilhão de Brighton, com uma escada principal inteiramente de ferro e colunas de cujo topo caem folhas de palmeira de ferro (1818-21). Foi o primeiro caso de uso do ferro não-dissimulado em obras dependentes da coroa inglesa. A cúpula de vidro presente no pavilhão de Brighton, entretanto, não era a primeira de seu modelo. Em Paris já eram construídas cúpulas desse tipo, que vieram a ser muito usadas em estufas e edifícios públicos por toda a Europa. O Estilo de Nash, denso e eclético, entretanto, não surpreendeu tanto quanto a inovação da maior cúpula de vidro que viria a ser construída.
O mérito em modernidade e monumentalidade coube a Joseph Paxton, com o Palácio de Cristal, sede da Primeira Exposição Internacional. A estrutura do pavilhão foi feita inteiramente de ferro e vidro. O que mais surpreende, porém, é o seu tamanho: maior que o Palácio de Versalhes, totalmente pré-fabricado e “(...) montado num prazo miraculosamente curto de dez meses.” (Pesvner, Nikolaus, 1980, pág. 128)
Houveram polêmicas e críticas afiadas contra a obra de Paxton, mas era inegável o fato de que ali nascia uma nova arquitetura. Os defensores do novo modelo estético apreciaram e elogiaram-na como arquitetura do futuro, mas não havia arquitetos adeptos dessa nova linha de construção. Enquanto isso,  vencimento de grandes vãos na combinação de trabalho estético e engenhoso coube às estações ferroviárias.
Nesse contexto polêmico, um arquiteto de destaque foi Violet-le-Duc, defensor veemente do uso do ferro e grande admirador da arquitetura gótica. Em seu livro Entretiens, sua opinião sobre o uso do ferro ricamente adornado fica bem clara. “Evidentemente não se poderia esperar mais do que isto de qualquer arquiteto dos anos 60 e 70.” (Pevsner, Nikolaus, 1980, pág. 133)
Foi o talento e a coragem dos engenheiros que trouxe os trunfos da construção em ferro como uma nova forma de conceber a arquitetura. A ala das máquinas de Duterte e Contamin, da Exposição Internacional de Paris de 1889, é um monumento ao ferro, onde se mostra seu grande potencial plástico e artístico. Para a mesma exposição coube a Eiffel a construção da maior torre até então construída, a Torre Eiffel (1889). Monumental, leve com curvas dinâmicas, uma construção inovadora para o contexto da época, onde, inicialmente, foi muito criticada.
Com a invenção do elevador e domínio do aço, passaram a ser construídos os primeiros arranha-céus. Sullivan, com Wainwright Building de St. Louis foi marco na época, com metal maciço em sua fachada. A partir daí, o concreto inicia a sua trajetória de volta às construções, e aliado ao aço, substituiria em pouco tempo o uso da pedra.
O concreto atingiu sua maturidade em 1897, com a construção da Igreja de Saint-Montmartre, de Anatole de Baudot. Discípulo de Violet-le-Duc, Baudot trabalha a estrutura da igreja num ideal fundamentalmente gótico, mas que antecede a complexidade espacial de grandes arquitetos modernos.
Os problemas sociais causados pela revolução industrial trouxeram aos arquitetos mais conservadores uma rejeição de novos materiais e nova arquitetura emergentes. Os engenheiros, entretanto, levaram adiante as novidades, gerado conflitos profundos relacionados à forma como via-se a arte na época. “O Artes e Ofícios manteve a mesma atitude retrospectiva e os engenheiros a mesma indiferença para com a arte como tal.” (Pevsner, Nikolaus, 1980, pág. 143)
Houveram também aqueles que defenderam a valorização do artesanato, mas com o proveito dos novos materiais e tecnologias. Estes formaram o Art Noveau, e uniram-se ao arrojo dos engenheiros. O século XIX gerou o ambiente propício para o modernismo: a temerosidade do fim das artes manuais, o surgimento de novas tecnologias e a Art Noveau. A busca do equilíbrio e de um estilo correspondente às descobertas e acontecimentos foi o berço dos movimentos intelectuais e sociais do século XX.

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